Essa garota, a Ticcia, hoje me fez chorar uma grandeza.
Elogio ao medo
Sejamos humanos!
Tenho medo da infelicidade branca e leve que não mostra os dentes, essa que veste o dia de um plástico transparente e lambe os nossos rostos sem que percebamos. Tenho medo da tristeza sem grito e sem desespero que nos cobre de nublado e ordinariza as cores, uma a uma, até que elas não mais se diferenciem. Tenho medo disso que invade manso e silencioso e quer estar despercebido para nos convencer que a vida é esse avesso de estar vivo, este contrário de viver, que quer ser este esgar de alívio no meio da dor inderrogável. Tenho medo de ser alfabetizada pela descrença, pelo triste, pelo esquecimento, pelo apático. Tenho medo de ficar paralítica e embrutecer calada com os olhos vazios e os braços habitados de um oco profundo, pensando que espero a absolvição do tempo, mas um dia perceber que fui-me embora de mim.
Tenhamos medo, portanto, tenhamos medo de que nos fujam das mãos as delicadezas do pão, da terra, da pele e dos cabelos. Tenhamos medo de que nos desertem dos olhos o brilho do açúcar, das lágrimas, da emoção do encontro, da tristeza e da solidão. Tenhamos medo de que nos falte na língua o gosto de um beijo, a palavra terna, o segredo partilhado e que disso não nos reste nem a lembrança dos nossos beijos guardados. Tenhamos medo de que nos abandone o corpo o calor do abraço, a ardência do desejo, a ânsia incompleta e premente de se entregar, de se rasgar, de se deixar invadir. Tenhamos medo, muito medo. E façamos do medo nosso anti-escudo, nosso infinito permear, reinventemos o medo para aceitá-lo e acolhê-lo e o tornemos coragem. Dispamos o medo, formidável e monstruoso, abracemos o medo e tenhamos o medo em nós, no mais fundo de nós. E sejamos medrosos e humanos, ínfima e infinitamente humanos, e nos agarremos desesperadamente à nossa humanidade cheia de dores e risos, cheia de tropeços e abismos e asas e altitudes e amplidões, cheia de vida para ser vivida do começo ao fim, de todas as formas.
.
Elogio ao medo
Sejamos humanos!
Tenho medo da infelicidade branca e leve que não mostra os dentes, essa que veste o dia de um plástico transparente e lambe os nossos rostos sem que percebamos. Tenho medo da tristeza sem grito e sem desespero que nos cobre de nublado e ordinariza as cores, uma a uma, até que elas não mais se diferenciem. Tenho medo disso que invade manso e silencioso e quer estar despercebido para nos convencer que a vida é esse avesso de estar vivo, este contrário de viver, que quer ser este esgar de alívio no meio da dor inderrogável. Tenho medo de ser alfabetizada pela descrença, pelo triste, pelo esquecimento, pelo apático. Tenho medo de ficar paralítica e embrutecer calada com os olhos vazios e os braços habitados de um oco profundo, pensando que espero a absolvição do tempo, mas um dia perceber que fui-me embora de mim.
Tenhamos medo, portanto, tenhamos medo de que nos fujam das mãos as delicadezas do pão, da terra, da pele e dos cabelos. Tenhamos medo de que nos desertem dos olhos o brilho do açúcar, das lágrimas, da emoção do encontro, da tristeza e da solidão. Tenhamos medo de que nos falte na língua o gosto de um beijo, a palavra terna, o segredo partilhado e que disso não nos reste nem a lembrança dos nossos beijos guardados. Tenhamos medo de que nos abandone o corpo o calor do abraço, a ardência do desejo, a ânsia incompleta e premente de se entregar, de se rasgar, de se deixar invadir. Tenhamos medo, muito medo. E façamos do medo nosso anti-escudo, nosso infinito permear, reinventemos o medo para aceitá-lo e acolhê-lo e o tornemos coragem. Dispamos o medo, formidável e monstruoso, abracemos o medo e tenhamos o medo em nós, no mais fundo de nós. E sejamos medrosos e humanos, ínfima e infinitamente humanos, e nos agarremos desesperadamente à nossa humanidade cheia de dores e risos, cheia de tropeços e abismos e asas e altitudes e amplidões, cheia de vida para ser vivida do começo ao fim, de todas as formas.
.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home